[FP] HÖMENNEG, Nadia Wolff

Sou como uma bomba relógio ligada no 220, imprevisível e muito agitada. Não consigo ficar parada por muito tempo, tanto fisicamente quanto mentalmente, ou começo a enlouquecer. Apesar de ser uma estrategista nata e planejar tudo antes de agir, não possuo rédeas na língua. Falo o que deve ser dito quando deve ser dito, sem me importar muito com o que os outros pensarão. Em público, sou sempre a pessoa que tenta manter a conversa fluindo com meu senso de humor leve e fácil, porém, na verdade, não presto muita atenção nessas interações. Enquanto faço o papel de palhaça analiso todo ao meu redor, procurando encontrar seus pontos fortes e fracos.

Amante de festas selvagens e, preferencialmente, secretas, torno-me uma garota completamente diferente quando estou longe dos olhares de conhecidos. Afinal, tudo que nos é proibido acaba sendo mais gostoso. Desde pequena fui a garotinha irritadiça, com pavio curto, e isso não mudou nada. Tenho absolutamente zero paciência, talvez pelo fato de estar sempre em uma linha de raciocínio que anda rápido demais. Como me entedio muito fácil, acabo fazendo besteira para passar o tempo. Cresci nas ruas de Nova York, lidando desde pequena com tipos complicados, o que me ajudou a endurecer como pessoa. Como nunca recebi amor nenhum da minha família, não acredito no mesmo.

Como toda boa história, tudo começou com o amor infinito do papai e da mamãe que gerou uma linda criança abençoada pelos céus. Pena que no caso de Nadia o papai, Alaric Hömenneg, era um carteiro alemão bêbado que vivia de favores em um apartamento alugado no Brooklyn, e a mamãe, Savannah Wolff, uma ex-prostituta desempregada. Nem precisamos dizer que a garota nascera de um descuido, uma camisinha furada ou até mesmo a falta de uma, e vista como um fardo desde a primeira respirada de ar puro. Não precisavam de outro tormento, e a filha era apenas outra boca para alimentar em uma casa onde todo o dinheiro era desviado para alimentar os vícios do chefe.

Nadia sempre fora uma garota agitada demais, mesmo quando bebê, e, quando aprendeu a andar com dois anos e meio, seus pais perceberam que tinha alguma coisa errada com ela. Era muito rápida. Até hoje a menina acredita que a única coisa boa que lhe aconteceu foi o fato de possuir pais ignorantes, ou teria sido estudada e dissecada como a aberração que era. Ao invés de se preocuparem com o fato da filha ser uma mutante, seus pais a viram como uma oportunidade de ganhar dinheiro. Nadia foi matriculada em corridas nacionais assim que sua idade permitiu, ganhando-as todas, obviamente. Quando não estava competindo, era obrigada a trabalhar nas ruas nova-iorquinas pregando golpes nas esquinas e nos postos de gasolina, fingindo ser uma sem-teto com fome.

Embora fosse vista pelos pais como uma entrada para dinheiro, a sensação de que era um fardo nunca desapareceu. Quando os desobedecia era obrigada a passar a noite nos becos do bairro perigoso onde moravam. Óbvio que não podia sair boa coisa desses castigos: em uma ocasião acordou coberta de urina de gato, em outra fora estuprada por um mendigo da região, e não podemos esquecer da noite em que conheceu sua atual "heroína", Elspeth.

Era uma noite do inverno mais frio das últimas décadas, e Nadia tinha apenas nove anos. Lembra-se com detalhes da  raiva nos olhos de sua mãe quando descobriu que a criança tinha dado o resto de sopa do jantar para a vizinha, que, em seus 89 anos, não tinha ninguém para cozinhar. Savannah e Alaric nem pensaram duas vezes ao mandarem a filha para a calçada. Se passava da meia noite, e a pobrezinha estava encolhida em um beco, enrolada em cobertores finos e furados, com o nariz tão vermelho quanto seus cabelos. Um homem suspeito apalpava seus seios infantis, se preparando para seguir em frente. Assim que viu Elspeth - com a mesma aparência que possui atualmente - soube que era diferente. Talvez tivesse algum poder como ela, quem sabe. Els ofereceu-lhe calor e um teto para passar a noite, com a melhor cama que já vira na vida, sem contar que botara o homem para correr com algo que parecia garras. Era como se sua fada madrinha tivesse resolvido aparecer. Wolff devia ter percebido que aquela boa ação viria com um preço.

Quase dez anos se passaram quando as duas se encontraram novamente, em circunstâncias completamente diferentes. Nadia estava no meio do golpe de sua vida, algo que lhe traria muito dinheiro. Não convenhamos em detalhes, pois qualquer informação levaria a ruiva direto para a prisão. Fora no dia decisivo da operação que Elspeth a surpreendeu, aparecendo como se nada tivesse mudado, literalmente. Não haviam sinais de idade em seu rosto, muito menos em seu corpo. Mas que porra, ela é imortal? - pensou Nadia. Els exigiu que seu favor fosse pago naquele exato momento, e não podia recusar, afinal ela salvara sua vida. Teve de largar tudo e ajudar a princesa de Atlantis a entrar na academia. Em outras palavras, tornou-se sua guarda pessoal.

Desde então vem nutrindo uma relação de tolerância-ódio mortal pela cristaciana. Tem momentos em que até  consegue suportá-la e perdoá-la por ter estragado sua vida e lhe obrigado a ficar na maldita academia, porém há outros em que simplesmente quer estrangulá-la até a morte. Sinceramente, está cada vez mais difícil de controlar esse desejo assassino.