Mrs. Crimmson ou Meg (para os amigos)
”Quem é você? Você está em contato com todas as suas fantasias mais sombrias? Você criou uma vida para si mesma onde é livre para experimentá-la? Eu criei. Sou maluca pra caramba. Mas sou livre.”Esta história não se inicia com o irromper do pranto de uma criança recém-nascida num dia especialmente distinto dos demais. Contudo, como alguns clichês se consolidam dentro de nós e dali recusam-se a sair, ela ainda desperta através das lágrimas de alguém. Substituindo os gritos alarmantes de um bebê, temos o lamento silencioso de um homem cobiçado, que decai sobre o cadáver da única pessoa que foi capaz de amá-lo com intensidade similar. Trevor Longstride chora pela perda de Ariana VonCrimmson, sua falecida esposa. Ou melhor, sua falecida razão.
[…]
Anos passaram no formato de um turbilhão de recordações desprezíveis. Cotidianamente, na classe acadêmica, Megan testemunhava suas companheiras relatarem as desventuras de se ter uma mãe. Não que isso a fizesse exibir algum favoritismo por ter perdido a sua, pelo contrário; evidenciava a carência pessoal que nenhuma cédula de cem dólares poderia suprir. Bem, não se pode enganar a morte por muito tempo.
Trevor uniu-se matrimonialmente pela segunda vez. A sortuda? Uma suposta colega de Ariana, Miranda, que provocava náuseas na garota apenas lhe dirigindo uma frase. Tinham um filho juntos, o Frederic. Ele era abastecido com todo o afeto possível, fato duplamente invejado. Atracado em um estúdio cinematográfico por quase vinte e quatro horas, Trevor sequer fazia menção de um cumprimento à Megan. As breves transições entre intervalos do trabalho eram voltadas aos caprichos da madrasta e regalias do caçula.
A raiva vinha anexada de uma miríade de planejamentos. Todos entrelaçados por um elo em comum: revolta. Queria obter destaque naquele ambiente desigual. Disposta a assumir consequências de uma tragédia, Meg deixou-se conduzir pelo humor volátil.
O manto noturno revestia o céu, indicando uma noite gélida aos habitantes da extensa Birmingham. Ninguém ousara botar os pés para fora de casa - a brisa glacial, por si só, intimidava os desavisados. Enriquecida pela pigmentação luminosa das lamparinas, a Mansão VonCrimmson comportava flocos de neve desfalecidos em sua telha ranzinza.
Uma silhueta volumosa perambulava pelos corredores durante a madrugada, imperceptível. Seus passos arrancavam bates surdos do assoalho. À medida que margeava o cômodo no vértice da galeria, sustentava a base de um gládio cartesiano.
A porta esgueirou, consentindo com o acesso de feixes incandescentes na saleta bronzeada. Frederic abalou os membros inferiores, transpondo-se ao estado de letargia.
- Olá. - a voz sádica soou, empregada de vestígios de frieza. Um soluço custoso obstruiu a garganta do menino, abafando suas tentativas de manifestar-se.
- Adeus - o braço armado estocou o ar, culminando no inserimento do punhal sobre o peito de Frederic. Seus músculos perdiam o vigor, a pupila esvaecia. O sangue caiu bem ao paladar da figura desconhecida assasina - ela o degustou como se fosse vinho.
[…]
O entardecer chorava como se soubesse o que estava acontecendo debaixo dos céus acinzentados por grossas e pesadas nuvens.
A chuva pesava, doía, caía como rochas nas costas dos que ali presente estavam. Era como ácido, corroía a alma. Disfarçava as lágrimas de cada um. Era como se houvesse uma desculpa para não segurar mais o choro - até os céus choravam naquela triste tarde de domingo.
No rosto de cada um, seus sentimentos, suas lembranças. Alguém morre, mas não morre sozinho. A pessoa morre cinco, seis, sete, dezenas de vezes, dentro de cada pessoa que cruzou sua trajetória de vida.
Morte.
O ponto final ou uma ponte final?
São várias crenças, cada um acredita em algo diferente. Cada qual acha que vai para algum lugar.
Alguns se consolam que é apenas um breve descanso para a “glória ao lado de Deus”. Outros acreditam que é apenas o fim de um longo, talvez até curto, aprendizado. Talvez um carma. Ou quem sabe o fim de tudo.
Alma? Espírito? Quais os conceitos disso, afinal de contas?
A marcha fúnebre cessou. Os primeiros resquícios de terra vedavam o caixão no subsolo. Mais que isso, vedavam um segredo condenado a ser eternamente secreto.
- Eu te vingarei, irmãozinho. - uma lágrima serpeou as maçãs-do-rosto da jovem, fervilhando-a.
Juventude & Escândalos
”O escândalo do mundo é o que faz a ofensa. E pecar em silêncio não é pecar totalmente.”O incidente de três anos atrás fora mascarado da mídia, escolha de Megan, que não conformou-se em ser ofuscada por algo tão natural, e convenceu o pai e a madrasta a esconderem tudo, mas de que modo? Talvez do mesmo que a figura desconhecida usufruiu para Fred não gritar de dor. O intocável brasão dos VonCrimmson seria agredido pela crítica caso qualquer rumor ascendesse aos tabloides locais. Desde então, Megan sucumbia à sede insaciável por bebidas álcoolicas, aplacando uma insanidade anormal, fruto do contínuo uso de nicotina.
Embora os esforços do pai assegurassem sua privacidade absoluta, a falta de estribeiras condenava o porvir de uma clássica linhagem favorecida pelo sistema monetário.
Amante da alta velocidade, Meg aventurava-se nas piores motocicletas da cidade. E ”piores” não refere-se exatamente às condições do veículo, e sim ao senso moral de seus pilotos: cafajestes de primeira, traduzindo com precisão o termo ”badboy de cinema”.
Sexo selvagem. Afrodisíaco. Adorava sentir jaquetas de couro roçando seu rosto enquanto era penetrada. A fragância da viril transpiração masculina a atraía: na verdade, era o antídoto para seu apetite sexual inacabável. Num desses clímax rotineiros, foi flagrada pelas lentes de um paparazzi. O vídeo rapidamente tornou-se viral na internet; páginas da web famosas, como o blog de Perez Hilton, vulgarizavam o sextape.
O escândalo estampava a primeira páginas das gazetas de toda a Inglaterra. Divergências relativas à estabilidade psicológica dos VonCrimmson eclodiam. A necessidade de uma válvula de escape jamais palpitou tanto.
Helter High Academy
Manhã nublada, harmonizando com o coro da chuva que se espalhava sob os pneus trafegados a cada dez segundos na pista úmida. As núvens que faceavam o sol aderiam uma nova química às suas gotas, e quando despencavam, continham a essência luminosa. Era como se chovesse diamantes, nos quais as pessoas pisavam, desestimando a gratuidade com que lhes enriquecia a natureza.
- Não tenho o dia inteiro, garota. Anda. - a porta do veículo esgueirou uma ala de passagem. O robusto braço do homem chocou-se contra as costelas de Megan, arrojando-a contra o exterior. Mais um pesadelo letivo na complexada escola de humanos.
O corredor tumultuado espremia seus passos, era uma avalanche de sons e pesos humanos colocando-a em provação para achar sua escapada. Apertava os livros sobre o busto e mantinha a cabeça na altura em que se ocultava sob as madeixas atufadas, encrespadas; apenas um olho para esmiuçar os caminhos transitórios que se abriam entre os estudantes.
Há meses, a difamação de sua imagem obrigou seu pai a remanejá-la de município. Acreditava que encontrar sua alma gêmea artística resgataria a clássica Megan, que comovia-se ao assistir noticiários banais, do gênero
”A Miséria das Crianças Africanas” até
”Salve o Planeta”. Estava errado.
Doses diárias de morfina eram injetadas em sua corrente sanguínea, induzindo sonos terapêuticos que a vetavam de atividades lecionadas. O legítimo colapso psíquico veio à tona quando estapeou uma orientadora, agravando sua circunstância nada favorável na sociedade britânica.
Mediando convênios judiciários, chegou-se a conclusão de que o comportamento hostil era produto de uma sucessão de perturbações no período infantil. A solução tinha nome. Helter High Academy, que a tempo a confortou depois de uma minunciosa e dolorosa confissão sobre a morte de Frederic, seu irmão.
A Chegada. A Saída.
No decorrer que o Volvo negro deslizava pela viela pacata, Megan desmanchava-se em lembranças relativas à Birminghan. O contador embutido no painel digital indicava 07h e 30 minutos, embora não precisasse dele para inferir que estavam sob o auspício da manhã.
Muros gastos, a tênue neblina ornamentando cada milímetro do asfalto… Como dizem, certas coisas nunca mudam. A coletânea, de certo modo, cativou uma nostalgia provisória.
A chuva da madrugada anterior ainda gotejava. Todos esses fatores contribuíram para que Megan assimilasse uma fantasia infantil: livre, inocente. Sem limites. Até que a ríspida voz do condutor uniu mente e corpo, trazendo a amarga realidade.
- Creio que chegamos, Mrs. Crimmson.Subiu o olhar, examinando o letreiro ‘’Helter High Academy’’ gravado em uma placa. O aroma da cafeína matinal infestou suas narinas quando escapuliram para fora do estofado.
- Dizem que esse lugar é um inferno. Você está preparada? - questionou, invadindo um território pessoal que não o pertencia.
- É melhor reinar no inferno do que servir no céu. - apesar da intromissão petulante, Megan geriu um sorriso inesperado. A partir daí, mergulhara de cabeça no submundo, pronta para fazer frente ao próprio Satanás.
A batalha por mostrar um sorriso a todos os cidadãos dentro da Academia, foi rígida, e Megan confessa que foram dias dificeis. Sua raiva era pura e seu controle pelo poder dos raios, era quase nulo. A renegaram obrigando-a a despedir-se daquela Academia enquanto Meg não acha-se outra forma de se integrar na sociedade, nada poderia ser feito.
Três anos se passaram. A bela jovem que antes era uma adolescentes, agora era uma adulta de corpo bem esculpido, olhos cor do mais limpo céu em dias de Sol ardente, e de mentalidade própria. Aprende a viver por sua conta, e está pronta para o que der e vier.
Dom Fev 14, 2016 3:04 pm por Galaco
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